O álbum ainda está saindo do forno, mas já dá pra dar alguns pitacos.
Esse período de divulgação, em se tratando desta banda, é sempre uma diversão à parte. Os Gallagher começam a falar mais besteira do que o já alto nível usual e conseguem aparecer em tudo quanto é canto da mídia judaico-cristã-ocidental (e além; não podemos nos esquecer dos devotos fãs japas da banda), sem falar nos "arranca-rabos" que pipocam em todos os grupos de discussão e comunidade roqueiras espalhadas internet afora entre fãs "xiitas" da banda e o resto do mundo.
Sou um grande fã deles, mas não chego a ser um "xiita" (apesar de quase ter me tornado um). Aliás, tenho dificuldade em entender como bandas muito mais inventivas e novidadeiras no cenário rock and roll, como Radiohead por exemplo, não conseguem chamar tanta atenção como os moços (hoje "tios") de Manchester. Por falar nisso, esse é o grande "confronto de platéia" existente no universo dos fãs de música pop atualmente: Oasis X Radiohead. Algo como um PSDB X PT do mundinho "indie". E como na política, uma babaquice sem tamanho. Eu consigo apreciar as duas bandas com o mesmo gosto sem grandes problemas.
Bom, mas voltando ao que interessa, esse 7º álbum da banda está muito bom, figurando entre os melhores da discografia deles (montei um adendo com um
"ranking bovino" em cima da dita cuja). Como era de se imaginar, não supera as duas obras diferenciais da banda (
Definitely Maybe e
[What´s The Story] Morning Glory?), porém fica acima de discos que não são ruins - mas que não "decolam" -, como
Standing in the Shoulders of Giants e
Heathen Chemistry ".
Ao contrário do antecessor e também bem cotado
Don´t Believe the Truth, que ainda segue com fortes traços da "cartilha" mais ortodoxa e original do som da banda, esse trabalho é bem mais flexível e - dentro do padrão (conservador) Oasis - mais criativo. Aliás, o primeiro que dá uma certa entortada na "fórmula Oasis". Saindo um pouco daquele estilo "melodias-hino" e tateando com algo mais - no dizer do Noel - "grooveado". Talvez seja o resultado da crescente democracia dentro da banda, com o "faz-tudo" guitarrista abrindo cada vez mais espaço para os outros integrantes colaborarem no trabalho de composição (5 das 11 faixas foram compostas pelos demais membros - Liam com 3). Ou não, talvez Noel apenas tenha assumido de vez que virou "tio" e esteja encarando melhor o fato de que o "mundo supersonic" dele não existe mais.
E já que citamos o senhor Liam Gallagher, ele pra mim é um dos destaques desse álbum. Além de ter aparentemente colaborado mais que o habitual, produziu uma das melhores canções do disco:
I´m Outta Time. Sem falar que deixou registrado um dos vocais mais equilibrados de toda a carreira da banda, e ainda virou o porta-voz na divulgação mundial do disco. Uma maturidade e serenidade surpreendentes pra um sujeito que até dias recentes mal e porcamente dava entrevistas e arranjava brigas (suficiente pra perder uns dentes) nos hotéis por onde passava.
Então vamos lá, faixa por faixa (focando no exame "espiritual-melódico"):
01 -
Bag it Up: tirando
Rock and Roll Star, acho que é a 2ª melhor abertura de um álbum da banda, e é a 2ª melhor música do disco - uma espécie de
Got to Get You into My life do começo do século XXI;
02-
The Turning: The Who com The Doors, ficou muito bom isso - Noel num dos seus melhores momentos de "colagens sonoras", com o final homenageando Beatles (pra variar) - uma das minhas favoritas, pulsante;
03-
Waiting for the Rapture: "viajando" na maionese, essa me lembra Paul McCartney solo nos melhores momentos (roqueiros),
principalmente o vocal, quando escuto me vem
Oh Woman Oh Why na cabeça, e dá pra achar The Doors e
White Album ali também - boa canção;
04-
The Shock of The Lightning: o "hino-single" do álbum e a 3ª melhor do plantel, puro e clássico "oasis way of music" - entre as minhas favoritas também (junto com o resto da torcida do Corinthians) - esse blog já postou o clipe
aqui;
05-
I´m Outta Time: essa aqui é 100% John Lennon que, segundo Liam, está encarnado nele - de qualquer maneira, talvez o melhor que ele já contribuiu pra banda até hoje;
06-
(Get Off Your) High Horse Lady: muito boa, tem hora que lembra bastante The Verve; Noel nas "colagens" novamente, "chupinhando"
Hi-Heel Sneakers - tem um pouco de Macca aqui também;
07-
Falling Down: essa é um passeio pelo Revolver dos Beatles com um "q" de Pink Floyd, classuda, e marca o fim do melhor do disco - aliás, é a melhor do disco;
08-
To Be Where There´s Life: cítaras indianas, o clima me lembra um pouco
Who Feels Love - boa, mas já num nível mais baixo do que as 7 primeiras;
09-
Ain´t Got Nothing´: na minha opinião é a mais fraca do disco, lembra de muito longe
Mucky Fingers;
10-
The Nature of Reality: gostei dessa, e não me perguntem de onde eu tirei isso mas me lembra uma mistura bizarra de riffs de guitarra do Blur com Pink Floyd (?);
11-
Soldier On: numa linha parecida com a anterior, mas mais fraquinha - um final escroto pro álbum.
Em suma, recomendadíssimo. Inclusive pra aqueles que tem uma certa afinidade com o som da banda mas sempre viram o Oasis "certinho demais". O melhor desse álbum é isso, eles continuam na mesma toada mas com um rock and roll menos "redondinho". Adquirindo maturidade mas sem decair o nível. Uma evolução, com certeza.